A denominação Comissão de Frente apareceu no Rio de Janeiro, nos desfiles carnavalescos das Grandes Sociedades no final do século XIX.
As comissões de frente já faziam parte, com esse nome, das sociedades carnavalescas, sendo, posteriormente, incorporadas aos ranchos e cordões carnavalescos. Funcionando como uma espécie de mestre de cerimônias do desfile dando boas vindas ao público e apresentando a escola, as comissões de frente das escolas de samba sofreram inúmeras mudanças ao longo do tempo. Em seus primeiros anos, eram formadas por um grupo de homens, em geral os diretores da agremiação, que vinha na frente da escola vestindo sua melhor roupa e saudando o público. Consta que algumas vezes carregavam bastões às mãos, cujo objetivo maior era o de defender seu grupo dos rivais.
A escola de samba Portela introduziu as comissões mais requintadas, onde seus componentes desfilavam com roupas elegantes, inclusive ocasionalmente com fraque e cartola, modelo esse que logo passou a ser copiado pelas demais escolas. Isso era parte da política de seu membro mais ilustre, Paulo da Portela, que entendia que os sambistas deveriam andar sempre bem vestidos, a fim de desfazer a imagem negativa que era tida sobre eles pelas classes mais altas, uma vez que blocos e cordões, antecessores das escolas, tinham como fama serem adeptos das brigas de rua e arruaças.
A Vizinha Faladeira, nos anos 1930, tentou inovar, trazendo as comissões em limousine e montadas a cavalo, como nas grandes sociedades. Tal fato a princípio foi bastante criticado inclusive pela comissão julgadora no único ano em que a escola do Santo Cristo venceu, pois esta alegava que apesar de ter seguido à risca o regulamento, entendia que tais recursos eram alheios ao que uma escola de samba deveria exibir. Em 1938 a comissão de frente passou a ser um quesito regulamentado. Com a chegada dos artistas plásticos nas escolas, muitas mudaram sua forma, já que as comissões eram muito parecidas entre si. Por causa disso, foi-se substituindo os trajes formais por fantasias, vinculadas ao enredo, apresentando passos marcados, ensaiados por bailarinos profissionais. Ao final dos anos 1990, já há a presença maciça de artistas circenses, grupos teatrais, uso de maquilagens especiais com muitos efeitos visuais e o uso de tripés.
No final dos anos 1970, com a liberação dos costumes, surgem comissões formadas por mulheres semi nuas, cujo marco principal foram as mulatas esculturais do carnaval de 1979 da Imperatriz Leopoldinense. Um modelo que logo se copia, mas a tendência crescente foi a de se mostrar comissões cada vez mais ricamente trajadas, com movimentos coreográficos cada vez mais elaborados. Isso não significa que as tradicionais comissões de frente tenham desaparecido: a Portela, por exemplo, manteve a tradição de se usar a velha guarda até os anos 1990 e algumas escolas vez ou outra ainda trazem esse tipo de comissão, como foi o caso da Rosas de Ouro em 2003. Até hoje, o regulamento dos principais desfiles não obriga as comissões de frente a se apresentarem dentro do enredo
Em São Paulo, fontes alegam que essa ala nasceu da necessidade de proteger os componentes das agressões policiais, quando as Entidades Carnavalescas convidavam profissionais influentes da comunidade (advogados, médicos, comerciantes etc.) para virem à frente nos desfiles.
Desde os anos 80, a Comissão de Frente passou a apresentar um espetáculo à parte dentro do próprio espetáculo, quando a tradição cedeu lugar à criação, e os integrantes da ala passaram a representar a parte inicial do enredo de suas agremiações. Tal alteração fez aparecer no universo do carnaval a figura do profissional de artes cênicas chamado coreógrafo, ou em alguns casos, do diretor teatral.
Atualmente a Comissão de Frente é o primeiro pelotão humano, a pé ou sobre rodas, a adentrar na avenida, segundo o regulamento da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo. É a menor ala dentro de uma Escola de Samba, perfazendo um mínimo de 6 e máximo de 15 integrantes, cuja apresentação vale trinta pontos para a agremiação. A ala tem por funções: apresentar a escola e saudar o público, além de “pedir passagem para o desfile”. Tais performances devem ser de forma gentil, graciosa, comunicativa e/ou carnavalesca. A postura e o perfeito sincronismo da coreografia devem ser também elementos essenciais de uma boa Comissão de Frente.
A Comissão de Frente pode ser composta de elementos masculinos, femininos, crianças ou casais. Pode desfilar andando, evoluindo ou até sambando, desde que mantenha a uniformidade e a comunicação com o público. É sempre o primeiro contingente a entrar na pista de desfile, podendo estar à sua frente somente a pessoa responsável pela coreografia da mesma e/ou o responsável (presidente, harmonia ou diretor) que conduz o andamento do desfile da Escola.
A abertura do desfile de cada Escola de Samba feita pelas comissões de frente é hoje de importância incalculável, pois além de criar expectativa em relação ao enredo da agremiação, a exibição coreográfica desse grupo, bem como sua indumentária exerce imensa fascinação na platéia. Constituem-se cada vez mais em um show à parte oferecido aos sambistas e aos espectadores do carnaval.
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