quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A ORIGEM DO QUESITO MESTRE SALA E PORTA BANDEIRA


Não existe uma narrativa comum das origens do casal, provavelmente, pode-se tecer um tronco comum em sua história: a bela dupla de porta-bandeira e mestre-sala tem suas origens na miscigenação de etnias diferentes. Neste caso, vale lembrar o encontro dos índios, dos portugueses e dos negros ainda nos tempos coloniais. Existem três possibilidades de emergência, maturação e desenvolvimento da dupla e de sua singular dança.

A primeira possibilidade tem por fundamento as danças, rituais e momentos religiosos oriundos dos orixás, uma espécie de mistura da cultura africana com a indígena já existente entre nós. Os que conhecem os rituais do candomblé ou mesmo da umbanda se atentar para a possibilidade levantada vão se lembrar do casal ou mesmo da porta-bandeira com seu leve e majestoso balançar. Ainda no mesmo caminho, é provável que os negros nas senzalas reproduziam as danças que viam na casa grande. Jocosamente, eles reproduziam os passos dos senhores que trouxeram a dança da corte do século XVIII ou dos saraus de Luiz XV na França. O fenômeno é hilário: imaginem escravos e escravas em meio a fogueiras, batucadas e danças improvisando bandeiras com movimentos e novas formas de corte. Não é por força do acaso que a roupagem e a indumentária da dupla nos dias de hoje - quando as escolas não abandonam a tradição - nos lembram as danças da corte. É simplesmente maravilhoso tudo isso.

A segunda possibilidade que abre caminho para o desenvolvimento do casal se assenta na existência dos ranchos e dos cordões no Brasil nos anos de 1800, nos quais o mestre-sala tinha um importante papel. Ele funcionava como uma espécie de guardião dos participantes do cordão. A ele cabem os segredos e a manipulação da navalha a qual usava com maestria nas mãos e entre os dedos dos pés. Não era qualquer um que possuía esse privilégio. O mestre-sala navegava bem no caldo cultural da sociedade e tinha a noção dos protocolos e das etiquetas próprias das avenidas e desfiles, não por acaso ele também mantinha a festa dentro dos parâmetros morais e dos bons costumes.

A terceira abertura que nos oferece a história do casal e o desenvolvimento de sua dança está no início do século XX. Cordões e ranchos eram acompanhados de bandeiras. Em geral, uma mulher, com uma roupagem parecida com a das baianas era acompanhada pelo mestre-sala, o qual, por função devia proteger a bandeira e sua companheira. No desfile dos blocos e cordões eram comum agremiações rivais se encontrar e travar uma verdadeira guerra de talcos, farinhas, água e tudo o mais que fazia com que a polícia raramente não se envolvesse. O mestre-sala de uma agremiação rival, chamado naquele período de “baliza”, tentava surrupiar a bandeira alheia. Por vezes a idéia era cortá-la. Historicamente as bandeiras foram sendo confeccionadas de cetim ou seda numa clara tentativa de dificultar a empreitada do mestre-sala rival e favorecer o trabalho da porta-bandeira que, por tempos portou um grande estandarte e tinha como acompanhante os denominados “portas-machados”, verdadeiros arautos da bandeira da escola. O resgate de um pavilhão furtado era amigável indo a porta-bandeira dançando levemente com seu mestre-sala no intuito de retomar a bandeira querida. A humildade era a alma do ritual e a retomada da bandeira o espírito do carnaval.

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